Igreja e santuário são lugares sagrados,
como deve ser a família. De fato, é ali que nasce a vida, dom do Criador à
criatura. É na família, de modo especialíssimo e único, que Deus continua a
obra da sua criação, infundindo a alma na matéria fornecida pelos pais,
formando assim um novo ser humano, que concretiza o amor dos esposos cristãos.
O lar cristão é o lugar onde os filhos recebem o primeiro
anúncio da Fé. Nesta Igreja doméstica,
comunidade de graça e oração, escola de
virtudes humanas e de caridade cristã, aprendem-se as primeiras orações, o bom
comportamento, isto é, os limites que devemos respeitar, o correto uso da
liberdade, o respeito, a boa educação, a fraternidade e o amor.
Mas isso não significa que na família não haja problemas ou
dificuldades. A Sagrada Família, modelo de
todas, onde o Pai quis que seu Filho nascesse e crescesse, passou por grandes dificuldades, como no nascimento
pobre de Jesus em Belém, na fuga para o Egito perseguido por Herodes e na simplicidade
do trabalho em Nazaré. Mas nem por isso deixou de ser a família mais feliz do
mundo. Também não quer dizer que na família não haja pessoas
ruins. Na ascendência de Jesus, entre seus ancestrais, havia pessoas não muito
recomendáveis, que Deus, entretanto, quis que fossem nomeadas na sua genealogia.
Mas, se a família é como uma Igreja,
a Igreja é também uma família. São
Paulo nos chama de membros da família de Deus, “domestici Dei”, edificados
sobre o alicerce dos Apóstolos (cf. Ef 2, 19-20). É na Igreja
que “nascemos de novo” pelo Batismo. Nesta
família fomos recebidos, nela estamos alegres e felizes, por saber que estamos
na casa de Deus.
Como toda família, a Igreja tem também seus problemas, devidos à sua
parte humana. Jesus disse que o “Reino de
Deus” aqui na terra, a Igreja, é semelhante a uma rede com peixes bons e maus,
a um campo com trigo e joio. A depuração será só no fim do mundo. Quem quiser
uma Igreja só de santos deve esperar o fim do mundo ou ir para o céu.
Essa noção de família é muito importante na eclesiologia. A Igreja é algo objetivo, fundada por Nosso Senhor sobre
os Bispos, segundo a sucessão apostólica. A Igreja não é um grupo de amigos.
Na Igreja, eu não procuro meus amigos,
eu encontro meus irmãos e minhas irmãs; e os irmãos e as irmãs não se procuram,
se encontram. Esta situação de não arbitrariedade da Igreja na qual
eu me encontro, que não é uma igreja da
minha escolha, mas a Igreja que se me apresenta, é um princípio
muito importante. Isto não é minha escolha, como se eu fosse com tal grupo de
amigos ou com outro; eu estou na Igreja
comum, com os pobres, com os ricos, com as pessoas simpáticas e não simpáticas,
com os intelectuais e os analfabetos; eu estou na Igreja que me precede
(Ratzinger, Autour de la Question Liturgique, Fontgombault, 24/7/2001).
Dom Fernando Arêas Rifan
(Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney)
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